Escrever é a arte de narrar a vida
- Andrisson Ferreira
- 23 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Quem era o ser humano antes de descobrir a escrita? Quem éramos antes de descobrirmos o fogo, o calor desta linguagem? A paixão do escrever é ensurdecedora, podemos perceber o mundo e narrá-lo por meio dos códigos, interpretá-lo, decodificá-lo. Vivenciar é eternizar os momentos pelas suas construções prazerosas ou amargas. Escrevendo assim, talvez pra você, caro leitor, pode parecer que falo de algo simples e fluente, mas escritores que aqui leem sabem da relação complexa do despertar o espírito das palavras e transpô-las para uma folha de papel ou uma aba de um programa de digitação.
Como narradores, versamos as vivências por meio das letras. O escritor toma papéis de descritor, investigador, poeta, sonhador! Ah...sonhar com as palavras, realizá-las no papel. Pôr na folha os sentimentos, tecer fios de memórias que despertam os sentidos e decifram as subjetividades do viver no mundo um céu e um inferno, os gostos da paixão, da desilusão, do amor ao ódio.
Um escritor pode ser um herói, um vilão, render críticas negativas ou elogios. Costurar palavras é uma incumbência profunda e de extrema responsabilidade. Escrever é um regozijo, um subterfugio, um acalento, outrora uma tempestade, um choro, um soluço. Quem versa palavras, versa vivências, narra histórias, possibilita diálogos, reflexões. Um bom escritor é aquele que observa a vida e a interpreta, também observa a morte, mas deixemos para outro momento.
Descobrir-se amigo das letras é se deleitar no mundo das possibilidades, das construções, das gramáticas, das sintaxes, dos períodos múltiplos, é acordar para as possibilidades de interpretações. É preciso compreender os importantes pilares para esses narradores da vida: ler, escrever, interpretar, narrar. Ler é se dedicar ao externo, é se conectar com o novo e aprender o diverso. Escrever é rabiscar, amar o rabisco, é revisitar, havendo também uma grande possibilidade de odiá-lo. Interpretar é dar vida às letras, é dar nitidez as percepções humanas e suas significações plurais. Narrar é interpretar, dialogar, render a conexão entre leitura, escrita e interpretação. Uma fulgura de amor e ódio.

Arte e fotografia: Andrisson Ferreira
Narrar a vida, narrar momentos, situações, construir frases, textos e trechos, destruir concepções, remoldá-las, visualizar novos caminhos, iluminá-los para caminhantes. Podemos acender fogueiras ou pintar escuridão.
Quando criança, percebi o poder da escrita. Um jovem periférico no subúrbio de Rio Branco despertou para o mundo da leitura e a imaginou como forma de narrar o mundo, de poder tornar visível o que outros, por meios próprios não estão despertados a enxergar, necessitam de uma lupa, de um incentivo, de um narrador.
Um escritor é um filtro, capta o mundo, suas singularidades e pluralidades, mas sem superficialidade, para quem se derrama tudo é mundo adentro. Decerto, o escritor não é o “salvador do mundo”, a escrita não é a única possibilidade de vislumbrar as dimensões do universo. A oralidade, o corpo, o desenho, a música são outras formas de linguagem, mas será que também não são outras maneiras de escrever?
Uma reflexão: qual ou quanto poder as palavras escritas exercem em nós? Seguramente não é uma força pequena. Escrever e ler é garimpar conhecimentos num plano infinito de ideias. É se debruçar no mar de ciência, dos saberes, dos anseios...
Escrever é viver. A viagem ao literário reflete as emoções de um escritor. Como diz Conceição Evaristo, escrever é sangrar. O sangue que se derrama pelas letras, e a cada uma registra a impressão dos sentidos das vivências, das proposições textuais, do encontro da caneta com o papel, ou dos dedos com o teclado, com os sentidos da imaginação. Escrever é sangrar, porque exige muito de si, exige vida!
Cantar, desenhar, libertar palavras do consciente, dar lógica aos mares de pensamentos, escrever história e histórias, cativar dispostos a serem amantes dos escritos que não são somente construções frasais, mas que são diálogos que têm por base as experiências do viver.
Comments