Dizem que a mulher é sexo frágil!
- Paulo Azevedo
- 8 de mar. de 2021
- 2 min de leitura
O título desse texto é um trecho da música “Mulher”, cantada por Erasmo Carlos. Cantor que fez sucesso ao lado de Roberto Carlos nas décadas de 1970 e 1980.
Por que sexo frágil? Essa frase é extremamente machista! Se olharmos a historiografia, a participação das mulheres foi decisiva, presente e muito forte em diversos momentos da história. Vejamos!
A Revolução Russa – um dos acontecimentos mais importantes do século XX - aconteceu porque no início do ano de 1917 milhares de mulheres se uniram e provocaram greve geral na cidade de Petrogrado, foi o motor da revolução, segundo Geoff Eley. Enquanto nos salões de Paris, algumas se vestiam luxuosamente com seus vestidos, na Rússia elas lutavam nas fabricas, nas ruas, no campo.
Em “Mulher, Estado e Revolução” a autora Wendy Goldman mostra o panorama da participação feminina na “Revolução de Outubro”. A autora cita que, além de ingressarem na força de trabalho, elas “eram responsáveis por criar os filhos, cozinhar, limpar, costurar, remendar – o trabalho penoso e mecânico essencial para a família”. E nessa busca contra-hegemônica era necessário jogar fora as panelas, a simbologia feminina vai nesse sentido, muito além dos serviços domésticos, as mulheres necessitavam e reivindicavam espaços para além das imposições de uma sociedade altamente estereotipada. Era necessário “sacudir” um corpo social exacerbadamente machista. E elas assim fizeram!
Mais de cem anos se passaram após esse evento. Estamos no século XXI e muitas das conquistas usufruídas hoje são resultados da luta dessas mulheres que outrora lutaram contra as amarras opressivas das ideologias patriarcais, e vale enfatizar, continuam lutando. Como no trecho da música, a história do “sexo frágil” é uma mentira absurda!
E o que falar da mulher “mãe África”
“Mama tem calo nos pés
Mama precisa de paz”
Em sentido metafórico, a mulher “mãe África” precisa de paz, mas precisa também ter seus direitos reconhecidos, direitos esses que lhe foram retirados e negados ao longo de séculos de espólios.
Numa sociedade que se erigiu sobre a égide do patriarcalismo, a construção estigmatizada do sexo frágil foi justamente para esconder a fragilidade masculina e o medo de perder espaços de poder. Nesse sentido, a igualdade é resultante da autonomia e reinvindicação dos movimentos de diversas mulheres nos espaços que outrora eram ocupados exclusivamente pelo homem.
Não queremos fazer apologia ao que é “ser mulher”, contudo é necessário reconhecer que ser mulher é ser plural, ou como escreve Simone de Beauvoir “não se nasce mulher, torna-se mulher”: companheira, mãe ou não, trabalhadora rural, escritora, pesquisadora, negra, quilombola, indígena, transexual, secretária do lar, atributos diversos que não podem conceber, tampouco pactuar com os estereótipos do que é “ser mulher”, mas que possibilitam vislumbrar a diversidade feminina no mundo contemporâneo.
Parabéns, escritor Paulo! Texto preciso para parabenizarmos as mulheres pelo seu dia. Que na verdade somente confirma anos históricos de lutas e reivindicações por seus direitos.