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Registro da solitude – Já nelas

  • Foto do escritor: Andrisson Ferreira
    Andrisson Ferreira
  • 16 de abr. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de abr. de 2021


Fotografia: Andrisson Ferreira


TEXTO DE ABERTURA DA SÉRIE “DIÁLOGOS DE UMA PANDEMIA”.


As palavras tornaram-me companheiras para descrição e busca de compreensão de um “novo mundo”, ou, não sei se melhorando a expressão: um novo momento em um "velho mundo". Inicio aqui com um primeiro texto da série “Diálogos de uma pandemia”.


Bem sei, caro leitor e leitora, muitos de nós estamos cansados e angustiados de tanto ouvir em novo coronavírus, Covid-19, mortandade, lamentação e luto. Mas há como os escritores fugirem dessa realidade que espreme a vida? E que espreme tão fortemente!


Acredito que a sugestão, tanto para escritores quanto para historiadores, é para que não caiamos no modismo de falar em pandemia agindo de forma conivente com a sua banalização, mas sim, nos atermos aos seus significados trazidos, observando as suas imposições no nosso cotidiano de uma maneira fugitiva das descrições óbvias. É preciso fazer uma ressonância do mundo e suas mudanças, das suas belezas aos seus horrores. Tem sido, severamente, um período pálido, escasso de sorrisos e encharcado de lágrimas. Mas sigamos ao menos tentando capturar, do retrato da lida, a peleja que tem sido estar no velho mundo que vive um novo momento.


Os “Diálogos de uma pandemia” que não acabam, elucidam consigo abraços que não se encontram, olhares que não se cruzam, mãos que não se apertam. Um mundo cinza cruel. Terra calejada de ser cama de mortos pela ignorância do homem, madeiras que poderiam ser árvores de purificação da vida ao invés de caixões para abrigarem a morte. Na colônia Brasil, para mais de 360 mil vidas a pandemia findou, para seus entes ela será perpétua no coração que marca saudade.


Nesse apressar dos dias, que acelera rumo ao futuro incógnita, o mundo já não é mais o mesmo. Agora devemos decidir para qual janela nos entregarmos! A janela-máquina não liberta um vento, não canta um pássaro, não aglomera uma nuvem - sem que não haja um código, não chora uma criança, não grita um "caralho" do soltador de pepetas, não balança uma árvore sem que seja de pura monotonia.


Corpos doentes, mentes doentes, punhos cansados, costas truncadas, olhos ardidos - o amargo retrato do mundo líquido, que escorre a esperança e retém a incerteza. Tão líquido e tão encharcado de neoliberalismo que tem centrifugado a vida e sacudido seu belo, suas poesias, suas histórias.


Sorrisos supérfluos, conversas supérfluas, encontros massivos, assim vai caminhando a Geração Aprendizap. Parece um texto lamentável, sem cor, desnutrido, anêmico, gripado, dissolvido na dispersão de uma terra que exclama – “ESPERANÇA!”. Esperança murcha todos os anseios sofridos, brota luz, ilumina medos. É esperar, é confiança, é esperança.


Te convido a encarar a janela mais humana, não podemos perder a essência do mundo que nos abraçou com sua cor, a janela que nos ofereceu respingos de chuva, ecos de trovões, balés de borboletas, coreografias de urubus, ruídos de humanidade bem ao lado, bem próxima, que se movimenta no decorrer solitário do retrato estagnado. É preciso não permanecermos reduzidos no campo de visão da solitude cibernética. Perceba, o amplo descansa, o reduzido da tela-máquina desgasta, lacrimeja, enfada. Vamos preferir não nos amarrarmos ao medo do novo, sabermos da pandemia, mas não encontrarmos nela o fim de tudo, mas o começo de algo.


Muita coisa nesses últimos meses mudou, já nelas estamos emaranhado – nas janelas, uma hora miramos acima, uma hora miramos abaixo, outrora zonzo, ludibriado sob o retrato das janelas do contraste. Que já nelas estamos a mais de um ano, no travar do sistema, no sol que arde, no reduzir e aumentar do brilho, na tela-janela inconfigurável. A tela-janela oferece pouquíssimo, se digitar “Xapuri” aparece sem afinco, só um empilhado de fotos, é lá fora da “janela viva “que está o contemplável, para fora da janela que mostra o mundo real, não o manipulado, cheio de 0101 e bugs, é o que temos, mas não é que deve ser o derradeiro.


Espero que esteja visível o convite: não se preencha somente com as tecnologias modernas e suas vastas formas de coações. Mas admire o horizonte, as pinceladas que tem desenhado o quadro real da vida, cheia de cores, sons, linguagens, histórias, cheia de esperança! Imagine! Não é só bela, é feia, é amarga, é cinza, mas é mais palpável e mais vivível.


Já nelas há mais de um ano, nas janelas que são os retratos de um contraste dado sem questionamento pelas incertezas do cotidiano. Deixe-as sempre abertas para que seja possível avistar o mundo.

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